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Mãe e filha moram juntas em uma casa de aluguel em São Benedito e compartilham os desafios e as vitórias da vida

Olhar tímido, sorriso no rosto e a satisfação de ter conseguido a nota máxima na prova de redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Foi assim que Letícia Marques de Abreu recebeu a equipe de reportagem em sua casa, onde mora com a mãe, de aluguel, no município de São Benedito, região da Ibiapaba.
Considerado um grande feito entre estudantes do Ensino Médio, o tão almejado mil na redação foi conquistado por apenas 19 alunos dentre os mais de 2,5 milhões de participantes do Enem 2022. A estudante da Escola Estadual de Educação Profissional (EEEP) Isaías Gonçalves Damasceno foi uma dessas pessoas.


“Eu realmente não acreditei. Sempre estudei em escola pública, não achava que fosse possível ser minha aquela nota, achei até que fosse um erro”, contou a estudante. Era por volta das 23h30 do dia 8 de fevereiro de 2023, quando Letícia teve acesso ao resultado no site do Sistema de Seleção Unificada (Sisu). A primeira coisa que fez quando aceitou seu resultado foi contar à mãe, Josefa de Abreu Serafim, pois além de uma conquista pessoal, essa foi uma conquista das duas.


Mulheres de força
Filha de pais separados, e morando apenas com a mãe, diarista, em uma pequena casa de aluguel, a realidade das duas mulheres nunca foi fácil. Quando chegou em São Benedito, depois de ter morado a maior parte da vida no Rio de Janeiro, a garota contou que foi um desafio a adaptação.


“Eu sou filha de cearenses. Nasci no Rio de Janeiro, mas nunca me senti de lá, acho que por saber que meus pais eram daqui”, comentou. A jovem, que chegou ao Ceará com 14 anos, fez questão de destacar que tudo na vida sempre foi conquistado com muita garra e luta compartilhada pelas duas mulheres.
“Na pandemia, eu só consegui estudar de casa por causa do tablet que recebi na escola. Era por ele que eu tinha acesso a internet”, conta.


Letícia sempre se dedicou muito aos estudos, tendo bons resultados na redação desde a primeira vez que prestou o Exame Nacional, a edição de 2020, que ocorreu no início de 2021. “Na primeira vez que tentei eu tirei 900. Agora, imagina aí, para quem nunca tinha feito o Enem e em meio a um processo de pandemia, o pessoal de máscara, eu não sabia me portar, mas mesmo assim consegui isso”, contou.


Na época, Letícia percebeu que poderia fazer mais, mesmo com todas as barreiras naturalmente impostas pelas condições sociais. O objetivo da jovem passou a ser se tornar a primeira pessoa da família a concluir o Ensino Superior.
Apesar de saber que a filha fez algo importante, pois a estudante já concedeu algumas entrevistas sobre o feito, dona Josefa, ainda assim, de forma humilde, perguntou à equipe: “Isso é muito importante, né?”. E ao receber a resposta, não escondeu o orgulho pela filha. “A vida toda ela estudou em escola pública, e eu tenho orgulho dela, porque não foi fácil para ela conseguir isso”, enfatizou, emocionada.


Rotina de garra e união
Sonhando em cursar Medicina e buscando inspiração em um jaleco, que ganhou da patroa da mãe e fica pendurado na parede do quarto de estudos, Leticia enfrentou, com a ajuda da mãe, uma rotina pesada para conseguir o feito da nota mil na redação do Enem.


Com o estágio em uma farmácia, tendo início às 7h da manhã, a rotina começava muito antes disso. A mãe acordava cedo para cozinhar o almoço da filha, que por problemas de saúde, não podia comer qualquer alimentação na rua. “Eu acordava muito cedo, né? Para preparar o que ela ia comer, porque ela não pode comer coisas por aí que passa mal”, comentou a mãe, sobre a parceria que elas construíram. A rotina de Josefa tinha início antes de 6h da manhã para dar suporte à filha e, então, ir trabalhar.


O estágio da jovem durava até as 12h, quando ela tinha que almoçar e se deslocar para a escola, que iniciava as aulas às 13h. “Meu estágio é aqui, no centro da cidade, já a escola é lá na saída. Então eu usava o ônibus escolar para me deslocar, e enquanto almoçava já aproveitava para resolver umas atividades [escolares]”, detalhou Letícia.
A estudante permanecia na escola das 13h às 17h, e então já ia para a academia, algo que não pôde deixar fora da sua rotina por recomendações médicas – e que Letícia achou extremamente importante para manter tanto a saúde física quanto a mental. Depois de todo o dia longe de casa, a jovem só retornava por volta das 19h, quando se preparava para encarar a rotina de estudos que entrava madrugada adentro, chegando até as 3h da manhã. O descanso era se permitir dormir um pouco mais nos finais de semana. Para além do mil na redação, essa rotina rendeu à estudante um 880 em Matemática.


“Eu acho importante falar sobre isso, sabe? Falar da minha rotina, que não foi fácil. Só eu e minha mãe, e mostrar que, mesmo assim, conseguimos. Porque assim, serve de exemplo, principalmente para outros jovens de São Benedito. Uma cidade pequena e longe de Fortaleza”, enfatizou a aluna.


Educação cearense
Além de reconhecer a importância da mãe, Letícia também pontuou a importância dos professores que a guiaram durante esse trajeto. “Eu tinha professores que estavam sempre lá por mim. Durante a pandemia, quando estava bem difícil, alguns deles me davam até aula extra à noite”, contou. “Eu já morei anos em outro estado, e a gente sente que é diferente a forma de fazer educação aqui”, completou.


“Quando soube meu resultado da redação, depois de contar à minha mãe, eu fui logo contar aos meus professores. O engraçado é que todos eles já esperavam esse resultado, confiavam em mim para isso, menos eu”, ressaltou.
A educação pública cearense tem conquistado vários destaques em rankings nacionais, tanto no Ensino Fundamental quanto no Ensino Médio, o resultado da estudante se somou a essas conquistas. O governador Elmano de Freitas esteve em São Benedito, com Letícia, e ressaltou a conquista da estudante e da educação pública do Ceará.
“Estou sentindo um orgulho danado! A nota mil é cearense. E isso significa que há anos, no Ceará, 500 jovens da escola pública entravam na universidade, e a educação do Ceará foi melhorando e melhorando, e hoje são mais de 20 mil jovens que entram na universidade oriundos da escola pública. Então, meu respeito aos professores e professoras deste estado”, comemorou o governador.
Isabella Campos - Ascom Casa Civil - Textona Fortes - 

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